Há três narrativas deste fato nos Atos; uma feita por Lucas 9. 3-22 outra pelo próprio Paulo, diante dos judeus, 22. 1-16 e outra pelo mesmo Paulo, diante de Festo e Agripa, 26. 1-20. As três narrativas combinam-se entre si posto que todos os incidentes se achem em cada uma delas. Em todo caso, cada uma foi escrita com referência ao fim que o narrador tinha em vista. Em suas epístolas, o apóstolo alude freqüentemente à sua conversão, atribuindo-a à graça e poder de Deus, ainda que a não descreve em minúcias, 1 Co 9. 1-16, 15. 8-10 G1 1. 12-16, Ef 3. 1-8, Fp 3. 5-7, 1 Tm 1. 12-16, 2 Tm 1. 9-11. Este fato, pois, é atestado pelo testemunho mais forte possível. É certo também que Jesus, não somente falou a Paulo, mas também lhe apareceu, At 9.17, 27; 22. 14; 26. 16; 1 Co 9. 1. Não se diz de que forma; com certeza foi de modo tão glorioso, que o apóstolo conheceu logo que era o Jesus crucificado, o Cristo, Filho do Deus Vivo, que lhe falava; e ele chama a isto, "visão celestial" At 26. 19, ou um espetáculo, palavra esta empregada em Lc 1. 22, 24. 23 para descrever o aparecimento de entes celestiais. Não há lugar para dizer-se que seja ilusão de qualquer espécie. Contudo, o aparecimento de Cristo não foi a causa da conversão de Saulo, e sim a obra do Espírito Santo no coração, habilitando-o a receber e aceitar a verdade que lhe havia sido revelada, G1 1. 15. Foi o mesmo Espírito que convenceu a Ananias e que o levou a impor as mãos e a unir à igreja nascente o novo convertido.
Vários racionalistas pretendem explicar a conversão de Paulo, sem tomar em conta a intervenção sobrenatural, mas essas opiniões são destruídas pelo testemunho do mesmo Paulo; afirmando a sua atitude de perseguidor, obedecia a motivos de consciência e que a sua mudança era devida ao soberano exercício do poder de Deus e à sua graça infinita. A frase "Dura coisa é recalcitrares contra o aguilhão", não quer dizer que ele agia contra a sua vontade, ou que já reconhecia a verdade do Cristianismo, quer dizer antes que era insensatez resistir aos propósitos divinos. A sua vida anterior deve ser reconhecida como um período de iniciação inconsciente para a sua missão futura. (Do Dicionário Bíblico, de John Davis)